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Testemunho de Ricardo Costa - Parte I

Perto da igreja, longe de Deus

por: Ricardo Costa

“Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais.” Jeremias 29:11 

Andei pelo caminho da música achando que estava agradando a Deus, mas na verdade, estava agradando a mim mesmo e desonrando ao Senhor.

Nasci em um lar não cristão. Meus pais nunca me ensinaram nada a respeito do cristianismo. Somado a isto, fui educado também por minha avó materna que era “mãe de santo”. Isso impactou a nossa família negativamente, pois tanto eu quanto minha irmã fomos expostos ao ocultismo e a certas cerimônias.

Desde cedo fui exposto às músicas heavy metal que um vizinho ouvia em um volume muito alto. Todos os dias à tardinha, religiosamente, minha mãe ouvia a rádio da cidade que tocava os “inocentes” flashbacks. Eram os anos 1980, época em que a música se tornou muito sensual. 

Até o fim dos anos 1990, costumava ouvir música sertaneja na casa da minha avó materna, e também boleros com meu avô paterno. Minha primeira namorada curtia pop music. Permanecia ouvindo e sendo influenciado por todos esses gêneros musicais. Na adolescência, meu interesse cresceu pelas músicas que minha mãe ouvia, de Elton John a Scorpions. Como não era possível ouvir as músicas dos álbuns individualmente, passei a comprar todos os CDs dessas bandas com o intuito de ouvir somente as “baladas”. Mas quando percebi, estava a apreciar mais as músicas pesadas do que calmas.

Certa vez, aos onze anos, entrei em uma tenda evangelística da Igreja Adventista do Sétimo Dia achando que fosse um circo. Fui batizado três anos mais tarde. A música da igreja, na época, era diferente de tudo o que eu estava habituado a ouvir em diferentes períodos ou lugares. Realmente, nada se assemelhava às músicas cristãs adventistas, mas com o passar dos anos isso mudou muito, infelizmente. Ao cantar as músicas do hinário adventista, sentia certa dificuldade técnica, algo como ardência na garganta. As mensagens musicais especiais soavam parecidas com as baladas dos anos 1980 que minha mãe ouvia. Essa semelhança me deixava incomodado com a produção musical da igreja e preferia ouvir as baladas seculares originais. 

Aos quinze anos, conheci outros estudantes da minha idade que tocavam violão. Nos reuníamos no pátio da escola técnica durante os intervalos e ali eles tocavam todo o tipo de balada rock. Aquilo me encantava, apesar de já estar batizado na Igreja Adventista do Sétimo Dia há mais de um ano. Eu desejava aprender a tocar violão para impressionar minha namorada. 

Durante o curso técnico tive acesso ao meu primeiro violão. Guardei o dinheiro do lanche por seis meses e comprei um péssimo violão, mas era aquele o instrumento que despertaria em mim o prazer em tocar. Mais adiante eu o vendi e adquiri um novo violão com cordas de nylon, ruim também, porém confortável. Eu sempre quis uma guitarra elétrica. Tocava o violão de olhos fechados me imaginando com uma Gibson Les Paul semelhante àquela usada pelo guitarrista da banda de rock Guns'n'Roses. Mas um instrumento como aquele era algo surreal, caríssimo na época. 

Depois de um ano de batismo, já estava desviado. Na verdade, ia à igreja esporadicamente e me encontrava mergulhado no rock. Ouvia a banda Linkin Park durante o sábado, até a hora de ir ao programa JA [reunião de jovens adventistas realizada nas tardes de sábado]. Quando voltava para casa, continuava a ouvir as mesmas músicas. Largava a bíblia num canto e preferia ler os encartes dos CDs. Em pouco tempo, formaria minha primeira banda secular de heavy metal. 

[Continua...]

A influência de Rick Warren

por: Filipe Reis

Ao longo das últimas décadas, uma figura assumiu predominância impressionante na cena religiosa americana: Rick Warren, o pastor evangélico de uma mega-igreja na Califórnia, cuja influência vai muito para além do seu rebanho mais próximo, chegando até junto de outros líderes religiosos, senadores, congressistas e presidentes americanos.

No âmbito da influência generalizada que Warren conseguiu atingir, talvez o maior ex libris dessa preponderância seja o seu livro “The Purpose Driven Church”, traduzido para português como “Uma Igreja com Propósitos” e também publicado em mais de 30 outras línguas. Dirigido essencialmente a pastores e líderes religiosos, o livro recebeu aclamação global em todo o espetro evangélico.

Pessoalmente, e tentando resumir a crítica a curtas palavras, direi que a proposta do livro – e consequentemente do pensamento de Warren – foca-se nas pessoas, no seu (suposto e presumido) bem-estar espiritual, quando se deveria centrar na Bíblia, a Palavra de Deus. Como resultado, o que importa não é uma mudança de vida – que dito de outra forma seria aflição pelo pecado, arrependimento e conversão – mas sim o “sentir-se bem” consigo mesmo, com os outros e com Deus, isto sem necessariamente mudar a inclinação do coração.

No conceito explanado por Warren, o crescimento que perpassa como o que mais importa é o dos números (quantidade) na igreja, em vez da espiritualidade (qualidade) do crente. Pratica-se uma espécie de arrebanhamento que funciona só por si, sem necessitar de clara definição de princípios ou valores. Infelizmente, muitos na Igreja Adventista não foram capazes de se mostrar estanques a este tipo de nova teologia, que encontra muitos pontos em comuns com movimentos do tipo “igreja emergente” ou “nova era”.

Muitos, largas centenas mesmo, foram os pastores adventistas que frequentaram as formações de Rick Warren, trazendo para a nossa igreja um tipo de pensamento que, embora agradável na aparência, se mostra um grave perigo na sua essência e influência a longo prazo – um dos problemas é que torna sem sentido, neutraliza por completo as distintas e especificas mensagem e missão do adventismo do sétimo dia.

Depois, e para agravar o caso, foram muitos os membros que correram às livrarias para comprar os livros de Rick Warren, um exemplo prático da consternação de Ellen White quando escreveu:

“Dói-me o coração quando vejo homens – até mesmo aqueles que professam esperar a vinda de Cristo – dedicando seu tempo e talentos à circulação de livros que não contêm nada acerca das verdades especiais para nosso tempo – livros de contos, de biografias e de teorias e especulações humanas.” Fundamentos da Educação Cristã, p. 123

Ainda assim, podemos hoje fazer algo de útil e benéfico: observar atentamente para perceber o que aconteceu nas igrejas cristãs americanas depois que aprenderam, absorveram e colocaram em prática os conceitos expostos no supracitado livro de Rick Warren. Serve para nossa reflexão, pois olhar o passado ajuda a preparar e prevenir o futuro.

Faço um curto apanhado prático do que mudou nessas igrejas, algo que pode ser facilmente constatado pelo observador atento. Posso ser entendido como demasiado generalista, mas creio estar a ser bastante rigoroso na descrição que farei.

  • Mudança no estilo de música, de clássico para contemporâneo, incluindo rock
  • Substituição de órgão e piano por instrumentos de banda, alguns pesados
  • Desaparecimento gradual de hinários e de grupos corais
  • Canto prolongadamente repetitivo, principalmente ao nível das letras
  • Vestuário informal, até descuidado, tomou o lugar do clássico
  • Desvalorização da organização eclesiástica (incluindo eliminação de Conselhos – de anciãos, diáconos – e órgãos administrativos tradicionais)
  • O pastor passou a centrar em si todas as responsabilidades
  • Não há relatórios nem “prestação de contas” aos membros da igreja; isso fica reservado para o círculo mais próximo e restrito dos poucos colaboradores do pastor
  • Programas especiais – tipo missionários – foram diminuindo, em alguns casos cessaram
  • Reuniões de oração passaram a ter mais música (o chamado “louvor”) e pouca ou nenhuma oração
  • A decoração da igreja é o mais minimalista possível, sendo removidos todos os adereços – como cruzes, etc. – tradicionalmente religiosos/cristãos
  • O púlpito foi retirado; o pregador fala num cenário idêntico a um qualquer auditório de palestras
  • Caem em desuso as versões antigas da Bíblia, privilegiando-se as versões modernas
  • Ainda assim, raramente a Bíblia é aberta e lida; o normal, quando acontece, é uns escassos versos serem brevemente mencionados ou projetados.
  • A palavra “igreja” é frequentemente substituída pela palavra “comunidade”
  • Os jovens são essencialmente incentivados ao entretenimento, à diversão; são quase inexistentes as classes bíblicas, tipo as “escolas dominicais”.
  • Os discursos tratam sempre de aceitação, tolerância, entendimento, ausência de conflito (seja terreno ou celestial)
  • São raras ou inexistentes as menções à existência do mal, conforme a Bíblia o expõe
  • Não há apelos a arrependimento ou conversão, nem durante ou no final dos serviços
  • Não se faz referência especial a salvos e perdidos, mas sim a “frequentadores de igreja” e “não frequentadores de igreja”

Esta não é uma descrição gratuita, parcial e tendenciosa; é o constatar do que resultou a adoção de ideias, conceitos e filosofias que residem numa nova espiritualidade, não a bíblica que fere até converter e transformar, mas uma que agrada ao sentimento corrompido do coração humano, convencendo-o de que ele é bom, está bem e, lá no fundo, Jesus sempre nos aceitará como estamos.

Leia com atenção:

“Tem sido o costume exaltar livros e autores que não apresentam o devido fundamento para a educação verdadeira. De que fonte esses autores obtiveram sua sabedoria, uma grande parte da qual não merece nosso respeito, mesmo que os referidos autores sejam tidos por sábios? Obtiveram suas lições do maior Mestre que o mundo já conheceu? Se não é assim, estão incontestavelmente em erro.” Ellen White, Fundamentos da Educação Cristã, p. 381

Não, Rick Warren não recebeu a sua sabedoria do Deus da Bíblia. E como ele, há outros “evangelistas” modernos – normalmente não adventistas – cujos ensinamentos recebem um tratamento privilegiado da nossa atenção, quando deveriam receber a maior repulsa.

Recuperando um texto anteriormente mencionado, o que faria magoar seriamente o coração a Ellen White seria verificar que muitos daqueles aspectos listados atrás já acontecem hoje nas igrejas adventistas, o que não aconteceria se apenas a Bíblia e as inspiradas mensagens proféticas fossem as nossas únicas fontes de sabedoria e esclarecimento.

“Nada há mais apropriado para fortalecer o intelecto do que o estudo das Escrituras. Nenhum outro livro é tão poderoso para elevar os pensamentos, para dar vigor às faculdades, como as amplas e enobrecedoras verdades da Bíblia. Se a Palavra de Deus fosse estudada como deveria ser, os homens teriam uma largueza de espírito, uma nobreza de caráter e firmeza de propósito que raramente se veem nesses tempos.” Ellen White, Aos Pés de Cristo, p. 90

Isto é tudo o que precisamos; o resto, é terreno encantado pelo inimigo da verdade.

MÚSICA E CONTEMPLAÇÃO
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