Fashion

Fashion

Uma análise da Nova Era na música

por: Dr. Wolfgang Hans Martin Stefani

A música é a linguagem internacional. E se o inimigo da nossa alma têm a intenção de arrasar o mundo com a sua falsa mensagem, não pode passar por alto a poderosa influência da música. Ele é um mestre da música e da composição, estando sob a sua responsabilidade a música celestial antes da sua queda. Nas últimas três décadas o movimento da Nova Era tem se espalhado por todo o mundo, principalmente através da música.

Os Beatles: arautos da Nova Era

Talvez o grupo mais famoso e influente da década de 1960 tenha sido os Beatles, de Liverpool, Inglaterra. O grupo (Ringo Starr, na bateria, Paul McCartney, no baixo, John Lennon e George Harrison, nas guitarras), teve bastante influência no rock norte americano e na música rítmica e melancólica do seu tempo. No começo da carreira deles, o estilo musical era muito parecido ao da música dos anos 50, músicas que incluíam “Quero segurar a tua mão”, “Quer saber um segredo” e “Por favor me agrade”. Mais tarde cantaram outras músicas mais tradicionais, tais como “Ontem”, “Michelle” e “Eu a amo”. 

No ano de 1967, os Beatles estavam envolvidos nas drogas. No ano seguinte John foi acusado de posse de drogas e recebeu uma multa. George e sua esposa foram detidos pelo uso de maconha. Não somente usavam drogas, mas também algumas das suas músicas, tais como “Lucy in the Sky with Diamonds” (Lucy no Céu com Diamantes, na qual as suas iniciais são LSD) os condenavam.

Das drogas ao hinduísmo

Das drogas se voltaram para o hinduísmo. George Harrison e sua esposa Pattie foram os que primeiro se interessaram no hinduísmo e na sua música. Isto fez com que em 1966 ficassem encorajados a visitar a Índia, onde George estudou cítara com Ravi Shankar. Enquanto estavam ali, conheceram o dirigente espiritual Shankar. Também viajaram para Varanasi, a antiga Benares, no rio Ganges, uma das cidades mais sagradas da Índia, onde assistiram a um festival religioso de três dias. O que viram e escutaram em Varanasi deixou neles uma profunda impressão espiritual. Logo que regressaram à Inglaterra começaram a estudar a religião hindu. Em fevereiro de 1967, Pattie se uniu ao movimento de Regeneração Espiritual, onde aprendeu meditação transcendental. Enquanto isso, George devorava os livros sobre o hinduísmo e compartilhava seus conhecimentos com os outros membros do grupo.

No meio de agosto de 1967, Maharishi Mahesh Yogh, visitou Londres para conferenciar em publico sobre a meditação transcendental, o que teve profunda influencia nas suas vidas. Um dos efeitos concretos foi que abandonaram as drogas e a substituíram com meditação. John comentou: "se tivesse conhecido Maharishi antes de ter usado LSD, não a teria usado". Paul mais tarde disse: “neste momento estou encontrando na meditação o que procurava, espero obter mais da meditação, para não precisar mais de drogas…” e Ringo tinha uma preocupação mais proselitista quando disse: "espero que os fanáticos se dediquem à meditação no lugar das drogas”. Este “despertar espiritual” como eles o consideravam, se fez presente na sua música e os Beatles se converteram nos primeiros “cantores evangélicos” da crença hindu da Nova Era.

George Harrison e Hare Krishna

Em seu disco de 1970, All Things Must Pass, George Harrison introduziu uma música dedicada a Hare Krishna, intitulada My Sweet Lord (Meu Doce Senhor). No entanto, mais tarde a revista Upbeat publicou as seguintes palavras de George:

"A ideia por trás de My Sweet Lord é pegar as pessoas de surpresa, parecendo uma música popular. O importante era não ofendê-las, aí coloquei no coro “aleluias”, de maneira que quando chegasse o nome Hare Krishna, já estivessem na armadilha, marcando o ritmo com os pés e cantando junto “aleluia”. Era como uma sensação que lhes daria uma falsa segurança. Rapidamente estariam cantando Hare Krishna sem perceber."

George parecia obcecado com Hare Krishna; cria que ele era Deus, que Deus tinha muitos nomes tais como Alá, Buda, Jeová, Rama, mais todos eram Krishna. Tinha desespero para ver a Deus, como a sua música sinalizava, e a única maneira de conseguí-lo, cria ele, era tendo consciência de Krishna e a meditação. Ao cantar um mantra de Hare Krishna, como se fazia no coro da sua música My Sweet Lord, inevitavelmente teria a consciência de Krishna.

O “Imagine” de John Lennon

No ano de 1971, John Lennon introduziu mais filosofia da Nova Era na letra de suas músicas “Karma Instantâneo” (karma segundo os hindus se refere à totalidade de ações da vida que determinam o destino da pessoa na próxima vida) e “Imagine”, sobre a existência utópica segundo a Nova Era. A música “Imagine”, que ainda é popular nos nossos dias e tem sido traduzida para várias línguas e usada em comerciais, fala para imaginar que não existe céu, nem inferno, nem países, nem religiões e que todos vivem em paz. Tudo isto faz parte da filosofia da Nova Era, que destaca uma comunidade global no lugar de vários países e nacionalidades, a ausência de religião tradicional que hoje conhecemos e nenhum conceito de retribuição (inferno), nem também céu na forma mencionada na Bíblia, somente esclarecimento. Na realidade se trata de um convite para que as pessoas se unam ao movimento da Nova Era. John canta “Talvez pensas que sou sonhador, mas não sou o único. Espero que um dia você se una a nós e o mundo será uma só coisa”.

John também estava no meio do ocultismo, principalmente por influencia da sua esposa Yoko Ono, quem se deixava guiar por psíquicos. Cria de tal maneira em certas coisas que fez tudo para que seu filho nascesse de parto cesariano no dia 9 de outubro, no mesmo dia do aniversario do seu pai John, porque seus conselheiros espirituais tinham dito que se seu filho nascesse nessa data, herdaria a alma de seu pai quando este morresse.

Mais hinduismo da parte de Harrison

No ano de 1973, George Harrison, no seu álbum “Vivendo num mundo material”, introduziu duas músicas que fomentavam as crenças hindus da Nova Era. A música “Me dá amor” contém uma frase que diz “não me deixes nascer”, que é uma referência ao ensinamento hindu de “nirvana” ou do abandono do ciclo da reencarnação e entrada num estado espiritual e universal. Também introduziu na mesma música a crença hindu do “Om”. Na música “Vivendo num mundo material”, Harrison se refere à reencarnação relembrando o “céu espiritual”. A oração contida na música se dirige a um deus panteísta e impessoal que está presente em todas as coisas. A música termina com o conceito de salvação que Harrison adquiriu do paganismo “a graça do senhor Sri Krishna, minha salvação”.

Beatlemania

A música e filosofia dos Beatles tiveram tremenda influência sobre milhões de adolescentes, estudantes universitários e jovens adultos, encorajando-os ao uso das drogas ilícitas, crenças (como karma e reencarnação) e práticas da Nova Era (meditação mística do oriente). Abbey Hoffman, um “hippie” militante do final dos anos 60, disse sobre os Beatles: “O efeito da banda do Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta sobre mim e outros ao redor do mundo, foi um impacto incrível, alguma coisa assim como começar um fogo numa fábrica de fogos de artifício”.

Outros grupos musicais como os Rolling Stones e os Greateful Dead, contribuíram para por música às filosofias ocultistas da Nova Era. 

Hair: O evangelho de Aquário

O drama musical do teatro Hair, também teve um tremendo impacto na mente dos jovens de ambos os lados do Atlântico. Caryl Matriciana, autora de Gods of the New Age, se converteu à Nova Era do mesmo jeito que milhares de outros jovens da sua geração, pela mensagem de Hair. Foi no final da turbulenta década dos anos 60, quando ela tinha 20 anos de idade, quando ela e seus pais voltaram da Índia para a sua terra natal, Inglaterra.

Para ela, Hair abriu as portas de um novo mundo para fugir da realidade através do uso de drogas psicodélicas e crenças hindus. Era o que podia ter-se considerado um dos esforços evangélicos mais poderosos da Nova Era. Hair subitamente deu aos jovens uma nova esperança diante dos problemas da sociedade e do mundo. Enquanto cantava “Deixa o Sol Entrar”, Caryl foi atraída a provar dos frutos de outra vida através das drogas. Foi convidada a “fechar as janelas” da sua mente para obter auto-percepção total. Declarou que a letra da música fazia com que ela e outros jovens “viajassem” ao mundo interior de seus corpos.

"Isso nos levava a unir-nos com o universo por meio da imaginação conduzida, visualização, música rítmica e energia entusiasta. Através da persuasão poderosa as cores se misturavam e os indivíduos se uniam numa força cósmica, uma força que finalmente chegava a se chamar 'Deus'. Nossas almas podiam se ver livres de nossos corpos ao projetar nosso astral e nos uniam a esse 'Deus'. Ao chegar em Sua presença, nós O tocávamos. 'Oh, meu Deus' cantavam os artistas, 'Tua pele é suave, adoro Teu rosto'. Chorava suavemente em êxtase. No meu estado de euforia, era elevada pela obra musical através de muitas cenas e idéias. E aquelas que tiveram profunda impressão em mim, foram aquelas que me levaram pelos caminhos da Índia."

Na versão cinematográfica de Hair, Berger, o herói, cantou “sou reencarnado, igual a todo mundo”. Em essência, o que fazia era lembrar suas experiências místicas da Índia, a yoga, a reencarnação e as drogas, e nos dizia que esta era a maneira de nos ajudar a evoluir e nos ajudara a desenvolver. A melodia tema de Hair que Caryl aprendeu a cantar intitulava-se “Aquário”. Esta continha ideias astrológicas da Nova Era, tais como a posição da lua “na sétima casa”, o alinhamento de Júpiter com Marte como sinal de que uma nova era astrológica (a era de Aquário) está por começar. A letra da música promete que esta era seria de abundância de coisas maravilhosas, incluindo a harmonia, a compreensão e a simpatia.

Ao lembrar tudo isto, Caryl advertiu o impacto que a mensagem musical de Hair teve sobre a sua maneira de pensar, seu raciocínio, sua percepção da religião, suas atitudes e sua moral, como também de milhões de outros como ela ao redor do mundo. Declarou que Hair foi o fundamento que preparou os jovens do mundo para as filosofias e crenças que fazem com que o pensamento da Nova Era hoje, seja a maneira de pensar mais influente. Caryl foi uma das jovens que mais tarde abandonaram o movimento da Nova Era, graças a um confronto com o que Cristo reclama para sua vida. Desde então tem se dedicado a revelar os perigos espirituais do movimento da Nova Era.

Categorias da Música New Age

Existem basicamente duas amplas categorias de música New Age:

1. Música popular que promove a filosofia da Nova Era através da letra.
2. Yuppie Muzak, música principalmente instrumental que serve para inspirar estados de meditação mística. 

Nova Era na Letra

Desde os dias dos Beatles, existem artistas populares que têm cantado músicas que promovem filosofias e crenças da Nova Era. O disco de 1979 dos Bee Gees, “Espíritos que Têm Voado”, faz referência à reencarnação. Também os fascinava o ocultismo. Maurice e Robin diziam ter poderes psíquicos extra-sensoriais. Prince, cujos temas tratam de erotismo, algumas vezes misturado com religião, na sua música “Sexualidade”, do álbum “Sinais dos Novos Tempos”, se refere à uma segunda vinda, uma “revolução da Nova Era”, que será uma era “em que tudo será permitido”.

Outros cantores populares que introduziram conceitos da Nova Era têm sido Whitney Houston, na sua música “O maior amor”, Mariah Carey em “Herói” (ambas promovem o conceito da Nova Era de amor a si mesmo), e Elton John na música tema do filme O Rei Leão, “Círculo da Vida” (que faz referência ao ciclo da vida na reencarnação). Vanessa Williams canta “Cores do Vento” no filme Pocahontas, que abertamente promove a ideia panteísta e animista de que “cada rocha e árvore e criatura tem uma vida, um espírito e um nome”.

O panteísmo é a crença pagã de que uma energia universal, ou uma essência impessoal de Deus permeia todas as coisas, animadas e inanimadas. O animismo ensina que tudo tem um espírito que pode comunicar-se com o espírito humano.

De maneira que o primeiro tipo de música da Nova Era é aquele que ela promove por meio da sua letra, seja aberta ou sutilmente.

Yuppie Muzak

Yuppie Muzak”, música para inspirar estados alterados da consciência ou meditação mística, é o segundo tipo de música da Nova Era. É o tipo mais prolífero. Você pode ir a qualquer loja de música e encontrar prateleiras e prateleiras de música de meditação mística sob o nome de New Age.

Este conceito de música New Age surgiu quando músicos e compositores profissionais aceitaram filosofias e crenças do movimento da Nova Era. Começaram a usar seus talentos a serviço do movimento. Muzak é a música da Nova Era definida mais com base na intenção do artista do que pelo seu estilo ou som. Tem sido preparada para servir como “música de fundo para a meditação ou para alcançar algum tipo de estado alterado de consciência”. Portanto, pode parecer chata quando escutada em situação normal.

Elementos musicais que faltam na música meditativa da Nova Era

A música no mundo ocidental geralmente tem quatro elementos: melodia, harmonia, ritmo e tempo ou compasso. A música meditativa usualmente carece de tempo, melodia e ritmo. Não tem uma melodia que se possa assobiar depois de escutá-la. Essa música tem se tornado tão popular que os prestigiosos prêmios Grammy em 1987 a incluíram numa categoria musical da Nova Era.

Basicamente se compõe de sons harmoniosos, às vezes acompanhados de sons ambientais místicos do espaço exterior, que dão a sensação de estar rodeado de uma presença apavorante. A música meditativa ocasionalmente emprega também compassos e sons místicos. Às vezes utiliza sons da natureza, como o som da chuva, o murmúrio das folhas no vento, os sons do mar, da correnteza da água, o canto das aves e outros.

É uma pena que Satanás tenha tomado alguns elementos da criação de Deus e os tenha incorporado na sua sutil música meditativa da Nova Era, para fazê-la parecer inocente e inofensiva. Mas não se engane, a música New Age pode ser usada para inspirar um estado de transe que pode ser o primeiro passo num caminho escorregadio para outras formas perigosas de meditação mística da Nova Era e os estados alterados de consciência. 

Artistas populares da Nova Era

Alguns artistas populares que compõem música New Age são: Vangelis, Sertie, Shakti, Kitaro, Yanni e Steven Halpern. 

Steven Halpern

Steven Halpern, por exemplo, tem produzido “muitos discos que integram claramente as práticas místicas do oriente com sua música”. Sua Spectrum Suíte tem sido desenhada para destacar cada um dos sete chakras (centros de energia do corpo, segundo os hindus). Halpern tem dito: “no meu trabalho, busco alinhar-me com essa força e elevar a energia vital do artista e a audiência para trazê-los a uma melhor sintonia com seu próprio deus-eu”. Ao referir-se à inspiração das suas composições, declara: “a música vem a mim, mas não de mim. A maior parte dela é canalizada com base na percepção de uma dimensão mais elevada: chama-se a presença de guias ou de poderes universais maiores”. 

Kitaro

Kitaro, que é um artista e compositor popular japonês, tem vendido milhões de discos. Seu álbum intitulado “A Luz do Espírito”, expressa as ideias universais da Nova Era acerca do universo, da existência humana, da natureza e do cosmos. Kitaro se autodenomina um músico da nova cultura. Considera sua música como parte do seu caminho espiritual e acha seu papel como o de um agente cultural de câmbio, que ajuda outros a obterem uma perspectiva fresca do mundo.

Yanni

Yanni Chrysomallis e sua noiva, Linda Evans, estão envolvidos na meditação oriental. Linda é uma seguidora do famoso J. Z. Knight, que canaliza um espírito que identifica a si mesmo como um guerreiro de 3500 anos de idade chamado Ramta, do continente perdido Atlantis. A primeira página da seção de negócios do jornal Los Angeles Times, do dia 4 de julho de 1995, continha uma lista dos 10 primeiros discos da Nova Era até o dia 3 de julho: #1 Live from the Acropolis, de Yanni; #2 Live from the Red Rocks, de John Tesh; #3 Shepherd Moons, de Enya; #4 In my Time, de Yanni. 

Shakti

Shakti é um grupo musical da Nova Era que inclui a John McLaughlin na guitarra. O interesse de McLaughlin pelas idéias da Nova Era começou com o estudo da filosofia oriental e sua religião e isto o levou a ser membro da Sociedade Inglesa de Teosofismo, na década de 1960. No começo dos anos 70, se converteu em seguidor do mestre espiritual Sri Chinnoy, quem sugeriu-lhe que incluísse no seu nome o prefixo Mahavishnu, que significa "divina compaixão, poder e justiça".

Enigma

Image of EnigmaTalvez um dos discos mais demoníacos da meditação mística da Nova Era seja o Enigma. Os títulos das músicas por si só alertam a qualquer cristão que esse tipo de álbum não deveria ser escutado. Alguns dos títulos são: “Voz do Enigma”, “Princípios de Luxúria”, “Minha Culpa”, “A Voz e a Serpente”, “Tocando em Portas Proibidas”. A música principal, “A Voz do Enigma”, inclui instruções audíveis. Ouve-se a voz de uma mulher que misteriosamente convida ao ouvinte: “Boa noite. Esta é a voz do Enigma”. A voz prossegue, mencionando que os ouvintes estão próximos de serem conduzidos a outro mundo, e sugere que desliguem as luzes, relaxem e se mexam ao compasso da música.

A música da Nova Era como um ponto de entrada

A música da Nova Era pode parecer inocente ou amoral. Mas pode ser espiritualmente perigosa se converter-se num ponto de entrada, numa forma de pensar que inclui ocultismo e crenças pagãs.

O principio bíblico que deveríamos aplicar ao escutar música está registrado em Filipenses 4:8.

“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”. Filipenses 4:8

Talvez as duas palavras que resumem esta passagem são “justo” e “puro”. Deus não quer que nos exponhamos a influências pagãs e ocultistas, que são contrárias à sua vontade expressa na santidade e separação daquilo que é imundo. 

O dilema da distração

O vídeo a seguir apresenta uma visão geral acerca da música utilizada no contexto da adoração a Deus. De modo abrangente e esclarecedor, o palestrante Christian Berdahl compartilha sua experiência como produtor, ator e cantor, tanto do teatro quanto da televisão, bem como de seu ministério de tempo integral na música sacra por mais de 15 anos. Confira!





Fonte: Música Sacra e Adoração

Um exemplo de fé e superação

Alegre expectativa pairava no ar. Pais, avós e demais membros da família aguardavam do lado de fora do Centro Médico Riverside, na cidade de Bacolod, Filipinas, a notícia que estava prestes a ser divulgada. Finalmente veio o momento em que a garotinha, o primeiro bebê da casa, chegou ao mundo chorando muito. O nascimento de uma nova criança por si só traz alegria. Mas, junto com o contentamento, essa garotinha trouxe grandes preocupações a seus pais e avós: ela nasceu com ausência conata de parte de seu antebraço direito. Os pais a chamaram Mary Grace, como que para refletir a calma resignação e a serena fé da Maria bíblica, e para deixar implícito que aquele pequeno pedaço de gente era realmente um presente de Deus a eles, para ser criada em Seus caminhos segundo a Sua vontade.

Mary Grace Gellekanao vivia com a família e os avós na mesma casa. Os avós dedicaram seu amor à criança em desenvolvimento e não permitiram que a deficiência congênita lhe afetasse o futuro. Quando Grace revelou interesse por música e piano, sua avó considerou isso um desafio. Ela procurou um professor após outro; mas nenhum se dispunha a ensinar-lhe. Como poderia uma garota sem antebraço dominar um teclado? Mas tanto Grace quanto sua avó eram mulheres de fibra. Não eram do tipo que desanima facilmente. Após meses de busca, correndo a cidade de um lado a outro, sua persistência foi recompensada. Uma professora concordou em tomar parte no desafio e concordou em lecionar para Grace, que na época era apenas uma criança.

Hoje, 24 anos depois, Grace domina o piano. Ela pratica pelo menos quatro horas por dia e pode tocar muitas peças difíceis. Ela também toca órgão. Em 1994, Grace, incentivada por sua professora, Sra. Sylvia Javellana, apresentou um recital solo de órgão. Um ano depois, a instituição Voluntários para a Reabilitação dos Deficientes e Incapacitados daquele país organizou o primeiro recital solo de piano de Grace. Foi um sucesso, mas apenas o começo.

Em 1996, Grace começou uma turnê internacional e tem tido uma agenda lotada desde então, com estudos universitários e apresentações. Ela se graduou em maio de 2001 pela Universidade de St. La Salle, da cidade de Bacolod, obtendo o bacharelado em Psicologia. Grace espera utilizar seus talentos musicais para ajudar outros, especialmente pessoas com habilidades diferenciadas, como no seu caso, a se aceitarem como criaturas especiais de Deus, de modo que possam ter propósito na vida e ser produtivas. Atualmente Grace é voluntária no Movimento dos 1.000 Missionários das Filipinas.

Grace, quando você começou a interessar-se por música?

Quando tinha cerca de 6 anos. Tornei-me muito interessada em música e desejava tocar um instrumento. Então minha avó levou-me a sério e fez todo o possível até convencer uma professora de piano a aceitar-me. Meu avô estava mais do que disposto a apoiar-me financeiramente. Graças à sua confiança fui capaz de descobrir uma importante parte de mim mesma.

Você realmente descobriu um potencial oculto.

Graças a Deus e a meus entes queridos. Não demorou muito para que eu soubesse o que é a música e o que ela requer. Exige muita força de vontade e bastante prática. Dediquei tudo que podia a essa arte que tanto amo, e hoje sou capaz de tocar peças difíceis. Por incrivel que pareça, meu braço direito toca as partes mais difíceis da peça. Admito que às vezes dói, especialmente quando estou tocando uma peça com escalas muito rápidas. Mas digo a mim mesma que a dor que enfrento ao pressionar cada tecla é o que torna a música especial, diferente de todas as demais. O som do aplauso das pessoas me deixa entusiasmada porque sinto que as faço felizes. Elas apreciam os meus esforços e isso constitui a recompensa e o remédio suficientes para um antebraço dolorido.

Onde e com que freqüência você se tem apresentado?

Com o apoio de minha professora, decidi realizar um recital solo de órgão em 1994, e um recital solo de piano no ano seguinte. A partir daí o programa se acelerou. O ano mais inesquecível foi 1996. Tive apresentações em muitos lugares. No mês de fevereiro me apresentei em Guam durante o 40o aniversário da Clínica Adventista do Sétimo Dia. Dois meses mais tarde, juntamente com alguns de meus colegas da escola de música, dei início a uma turnê de recitais pela Europa. O recital mais memorável teve lugar em Frankfurt, Alemanha, no Buerguerhaus de Hausen, para o Clube da Família de Offenbach. Entre os convidados que assistiram ao recital estava um ex-embaixador das Filipinas na Alemanha, Francisco del Rosario. Posteriormente seguimos em turnê por outras partes da Europa, e em nossa viagem de retorno passamos por Bangcok, na Tailândia.

Outros concertos internacionais seguiram-se enquanto eu me valia das oportunidades de partilhar meu dom musical com a audiência, e no processo, ganhar o amor e apreciação de minha própria família.

E seus pais? Vindos de uma cultura como a sua, eles devem ter tido suas próprias dificuldades a vencer durante seus primeiros anos de infância, considerando sua deficiência física.

Minha infância foi um tanto complexa porque meus pais enfrentaram tempos difíceis para aceitar o fato de que sua filha mais velha nasceu com uma deficiência física. Eu tentava compreender a reação deles diante de meu infortúnio, embora me sentisse realmente afetada com sua frustração. No entanto, ainda sinto que de um modo ou outro sou afortunada por Deus ter-me concedido o dom de tocar piano e órgão, o que compensa minha condição.

Sinto-me feliz porque Deus tem sido tão bom para mim, permitindo que todas essas coisas maravilhosas ocorram em minha vida. Tocar me tem proporcionado tantas alegrias! E embora as coisas nem sempre ocorram do modo como desejamos, devemos sempre lembrar-nos de que tudo quanto Ele permite que nos sobrevenha tem um propósito. Deus emprega mesmo os maiores erros e o mais profundo ferimento para moldar-nos em pessoas de valor e qualidade.

Como foi sua experiência universitária?

Minha vida universitária foi para mim o período mais memorável. Comecei a relacionar-me com outras pessoas. Consegui muitos amigos e realmente passei a aproveitar a vida e partilhar minha música. Não enfrentei nenhum problema com minha fé enquanto cursava a faculdade, embora fosse uma universidade católica. Eu não precisava assistir às aulas aos sábados e os estudantes e professores respeitavam as minhas crenças.

Houve algumas pessoas especiais em minha vida, mas há alguém que desejo mencionar. Essa amiga ajudou-me a ter dignidade própria, a preencher os espaços vazios em minha vida e a manter-me perto de Deus. Ela me deu coragem para enfrentar a vida e me tem ajudado a confiar nas pessoas. Quando eu era mais nova, não podia expressar a ninguém o que sentia. Apenas conservava tudo dentro de mim. Ansiava ter a sensação de pertencer a alguém, de ser abraçada. Mas não obtive muito sucesso até conhecer minha amiga especial na faculdade. Como disse, ela tornou minha vida muito mais significativa. Sinto-me muito abençoada porque ela e outros cruzaram meu caminho.

Grace, apenas por curiosidade, por que decidiu cursar Psicologia na faculdade e não Música?

Eu sempre tive esse sonho -- ser uma missionária através da música, de algum modo à minha própria maneira, fazendo uma diferença na vida das pessoas. Acreditava que uma combinação de psicologia e música poderia ajudar-me a ser eficaz em terapia musical. Também espero poder inspirar outros com deficiências. A deficiência física não é impedimento para o êxito ou felicidade. Desejo que as pessoas percebam isso. Anseio dedicar cada minuto de minha vida a Deus. Estou certa de que uma musicista e psicóloga ao mesmo tempo pode ser realmente um grande auxílio para a realização de meus objetivos.

Pode nos relatar algo sobre terapia musical?

A terapia musical é a aplicação sistemática da música no tratamento de aspectos fisiológicos e psicológicos de uma enfermidade ou deficiência. Concentra-se na aquisição de habilidades e comportamentos não-musicais, determinados por musicistas terapeutas especializados, mediante avaliação sistemática e planejamento terapêutico.

Tem alguma palavra de conselho para os nossos leitores?

Nunca desanimem, porque Deus está no controle. Às vezes sinto que estou a ponto de desanimar, mas então oro e encontro em Deus a força, o conforto e o amor de que preciso para seguir avante. Sou grata a Ele porque sempre está ao meu lado para cuidar de mim. E o grande fato é que Ele também está aí ao seu lado. Meu cântico favorito é: "Deus Abrirá um Caminho". É verdade, Ele abrirá um caminho, mesmo que pareça não haver caminho. Eu passei por muita coisa desde a infância. Seria inevitável que alguns de meus colegas zombassem de mim e dissessem coisas que podiam partir-me o coração. Mas desde jovem tenho procurado lembrar-me de que "Deus não cria refugo", como se diz, e é isso que desejo que os jovens tenham em mente. Todos são especiais à Sua vista.



Os cristãos e a escolha da música

por: Alberto Ronald Timm, Ph.D em Teologia.

Toda música reflete componentes básicos da cultura ou subcultura em que foi concebida, bem como dos valores pessoais e, em certos casos, até mesmo o estilo de vida do seu compositor. Isso significa que cada música transmite uma mensagem aos seus ouvintes. Essa mensagem pode ser enunciada explicitamente através de uma letra específica ou, simplesmente, comunicada às emoções dos ouvintes através da combinação de sons.

Em sua obra How Should We Then Live?, Francis A. Schaeffer demonstra como a música contemporânea tem refletido a cosmovisão e os valores existenciais do homem contemporâneo (The Complete Works of Francis A. Schaeffer, 2.ª ed., vol. 5, págs. 195-209). Conflitos interiores, egocentrismo, sensualismo e abandono de padrões morais são alguns dos valores popularizados por grande parte da música moderna. Já desde a mais tenra idade, as crianças de nossa sociedade têm sido inescrupulosamente estimuladas, em nome da cultura e da popularidade, a substituir os valores morais do cristianismo tradicional pelo sensualismo de inúmeras canções populares, entoadas como melodias repetitivas e ritmos eletrizantes.

Embora o cristão seja ao mesmo tempo um cidadão deste mundo e do reino de Deus (ver Mt 22:21), ele não pode se esquecer de que sua cidadania celestial tem precedência sobre sua cidadania terrestre (Mt 6:33; Jo 17:14-16). Mesmo não tendo que romper com toda a música secular, o cristão deve ter em mente que o fato de uma música ser popular e culturalmente aceita não significa necessariamente que ela seja apropriada, pois nem sempre a maioria está correta. A cultura popular deve ser aceita apenas até o ponto em que não conflite com os valores bíblicos. Quando tal conflito surge, o verdadeiro cristão não hesita em romper com os componentes antibíblicos de sua própria cultura, pois, de acordo com o conceito apostólico, “antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5:29).

O subjetivismo dos gostos pessoais e o apelo da cultura popular devem ser subjugados e reeducados em conformidade com os princípios normativos da Palavra de Deus. Não apenas a letra de uma música, mas também os estímulos da própria música sobre as emoções dos ouvintes devem ser cuidadosamente analisados. O rei Salomão nos adverte: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4:23).

Fonte: Sétimo Dia

Diálogo com o violinista Jaime Jorge

A entusiástica mestria do violino de Jaime Jorge já deleitou muitas audiências ao redor do mundo. Cristão comprometido, Jaime dedicou seu talento especial ao compartilhamento do amor de Deus através de concertos clássicos. 

Nascido em Cuba, em 1970, Jaime começou tocar violino quando tinha cinco anos. Aos 10, sua família mudou-se de Cuba para os Estados Unidos, onde o jovem Jaime começou estudar com o célebre violinista Cyrus Forough, um aluno do notável David Oistrakh.

Através dos anos, Jaime tem tocado em lugares e ambientes variados, desde auditórios de colégios a igrejas e até no famoso Carnegie Hall. Ele já se apresentou perante chefes de Estado e outras autoridades governamentais ao redor do mundo, incluindo as Américas, Europa, Ásia, Austrália e Rússia. Ele faz, em média, mais de 75 concertos anualmente, apresentando-se para cerca de meio milhão de pessoas — algumas vezes chegando a 44 mil numa uma única apresentação.

Jorge obteve prêmios por cinco de seus álbuns, dois dos quais foram gravados na Europa com a Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional Tchecoslovaca, em Bratislava. Seu álbum natalino, Christmas in the Aire, foi gravado juntamente com os 75 membros da Orquestra Filarmônica Nacional da Hungria.

Jorge graduou-se na Universidade Loyola de Chicago. Após estudar Medicina por um breve período na Universidade de Illinois, ele deixou o curso de Medicina para servir integralmente a Deus com seu talento musical. Jaime casou-se com Emily, uma talentosa cantora, em agosto de 1997. Além de atender à sua repleta agenda de concertos, Jorge é professor-associado de música na Universidade Gardner-Webb, na Carolina do Norte.

Seu pai era pastor em Cuba. Foi difícil para você, como cristão, crescer num país comunista?

Todos os jovens cristãos cubanos sofriam algum tipo de importunação e alienação. Na escola, os alunos e os professores riam de nós. Freqüentemente éramos interrogados sobre nossas crenças e desprezados por não sermos comunistas. Mesmo em nossa vizinhança, algumas crianças não nos deixavam brincar com elas devido às nossas convicções religiosas. Nunca sabíamos se nos deixariam brincar, se nos excluiriam ou se ririam de nós.

A música sempre foi importante para sua família. Sua mãe era uma talentosa musicista. Mas, por que o violino o atraiu? O que o motivou a trabalhar tão arduamente para aprendê-lo? 

Inicialmente, o que me atraiu no violino foi sua grande capacidade de comunicação: pode-se transmitir uma paixão profunda, ânimo e também ternura e afeição. Porém, o que me motivou a trabalhar de modo persistente foi o empenho de minha mãe em desenvolver o talento que Deus me havia concedido. Eu gostava de apresentações musicais, mas odiava ficar treinando. Ela me compeliu a praticar. Aprendi música com facilidade. Não me lembro de ter dificuldades como alguns ao meu redor. Mas, conforme fui crescendo, desenvolvi um desejo de me esmerar em tudo o que tocava e interpretava.

Quem mais o influenciou em sua espiritualidade? 

Meu pai. Ele sempre teve um profundo comprometimento com o Senhor e em compartilhar o evangelho (ele trabalhou como pastor até sua aposentadoria, alguns anos atrás). Sempre pude constatar que ele vivia aquilo em que acreditava e pregava.

Jaime, uma vez você disse: “Quando olho para trás em minha vida, posso ver que os pontos mais baixos e difíceis sobrevieram-me quando eu estava longe de Jesus, mas Ele nunca me abandonou.." O que você faz hoje para alimentar seu relacionamento com Deus? 

O único caminho para manter o relacionamento com Deus é passar tempo em estudo e oração. A única maneira de eu ser uma fonte de encorajamento e até de instrução para os outros é reabastecer diariamente esse manancial com Jesus. É por isso que me esforço em meu relacionamento pessoal com o Senhor. Nem sempre tenho êxito, mas é o único caminho que capacita para ajudar os outros.

Você estudou com dois dos maiores violinistas do mundo. Que outras influências inspiraram sua música? 

Minha mãe, Paul e Stephen Tucker (que cuidam dos meus arranjos e produção) e outros artistas conhecidos (tanto clássicos como religiosos) como Itzhak Perlman, David Oistrakh, Yo-Yo Ma, Plácido Domingo, Herbert von Karajan, Oscar Peterson, Van Cliburn, Quincy Jones, David Foster e Larnelle Harris. Esses são apenas alguns. Também aprecio muito compositores como Beethoven, Mozart, Chopin, Rachmaninoff e Tchaikovsky. Todos esses artistas se esforçaram para atingir o mais alto nível possível no que fizeram. É isso que também faço. E admiro, principalmente, aqueles que renunciaram à ostentação e ao reconhecimento do mundo em favor de uma vida dedicada a compartilhar seus talentos para a glória de Deus.

Apesar de seu incontestável talento e interesse pela música, você começou a estudar Medicina. Foi difícil desistir do sonho de ser médico? Você está feliz por ter escolhido a Música em vez de Medicina? Quando sentiu o chamado de Deus para exercer seu ministério em tempo integral? 

Nunca quis ser músico. Eu estava ciente da vida de sacrifícios e incertezas de um músico, especialmente de um músico cristão. Financiei algumas das minhas gravações e minha faculdade, inclusive parte do curso de Medicina, através de meus recitais. Mas logo após meu primeiro ano na Escola de Medicina da Universidade de Illinois, senti que o Senhor estava tentando atrair minha atenção. Então comecei a orar, mas não querendo realmente saber o que o Senhor tinha a me dizer. Finalmente, depois de orar durante oito meses (um pouco assustado), pedi um sinal a Deus. O sinal foi dado e então pedi um segundo sinal. Esse também foi dado e, naquele momento, decidi que deveria fazer o que o Senhor queria. Isso aconteceu em 1996. Não foi difícil desistir do sonho de ser médico, porque eu queria realmente fazer a vontade de Deus. Pensei que a Medicina era o plano divino para mim. Assim, quando tive certeza de Seus desígnios, senti completa paz. Nunca olhei para trás e lamentei esse fato ou me arrependi disso.

Você gravou vários álbuns até agora e produziu dois vídeos. Durante esses projetos, você teve muitos desafios, mas Deus sempre o ajudou. Que conselho daria aos jovens músicos que desejam gravar seu primeiro álbum? 

Desde 1987 até agora gravamos 10 álbuns. Eles começaram de modo simples, humilde e com baixo custo. O melhor conselho que posso dar a alguém que deseje gravar um álbum? Bem, primeiro escolha as composições que sinta que Deus quer que você insira em seu álbum (e isso através da oração). Segundo, escolha melodias que as pessoas reconheçam e com as quais se identificam. Muitos artistas incluem somente músicas originais, mas, como as pessoas não os conhecem, fica difícil convencê-las a comprar um álbum de músicas desconhecidas. Terceiro, comprometa-se a gravar o melhor álbum possível que puder. Esforce-se na qualidade de sua apresentação. Estabeleça os mais elevados padrões e não pare até atingi-los.

Entrevista publicada pela revista internacional Diálogo Universitário.

Sons que curam e transformam vidas

Há pouco mais de vinte anos, o violinista Paulo Torres foi visitar uma tia que estava internada no antigo hospital Saint Claire, em Curitiba, por complicações de um enfisema pulmonar. Estudioso do instrumento desde pequeno e já um profissional de renome com algumas páginas em seu extenso currículo, trouxe seu violino para entreter e acalmar a paciente. Enquanto solava algumas peças barrocas, percebeu que pacientes dos outros quartos estavam saindo ao corredor, ávidos por ouvir o som angelical que vinha daquele quarto.

Como macas e camas não comportavam a numerosa plateia, Torres começou a visitar todos os “hóspedes”, tocando sua música para os pacientes interessados. Até chegar ao quarto de uma jovem que dormia. “Ela abriu os olhos e tentou falar comigo, mas só saíram sons guturais. A mãe dela, que estava no quarto começou a chorar e a gritar, e médicos começaram a entrar no quarto. Fiquei assustado”, lembra. Não era para menos: a paciente estava havia três anos em coma e despertou ao som de seu violino. “Percebi que minha música poderia ser usada como um instrumento divino para levar consolo, paz, alegria, tranquilidade e momentos de reflexão para pessoas enfermas.”

Desde então, Torres não parou mais. O castrense de 58 anos e pai de cinco filhos encontra brecha em suas funções como professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, primeiro violinista da Orquestra Sinfônica do Paraná e membro da Academia Paranaense de Letras e, voluntariamente, toca para pacientes em diversos hospitais da cidade. Também toca em orfanatos, asilos e prisões – onde chamarem. “Mais bem-aventurado é dar do que receber”, justifica o trabalho com uma frase do apóstolo Paulo, reflexo de sua religiosidade desenvolvida na Igreja Adventista do Sétimo Dia. Traz em seu repertório música erudita barroca, clássica e sacra, além de hinos das mais variadas denominações. 

Benefícios

O trabalho voluntário de Paulo Torres o levou a buscar fundamentação em uma área cada vez mais estudada na medicina: o uso da música como terapia e humanização do tratamento médico. “Existem muitos estudos que associam a música sacra e a música barroca a uma melhora física e emocional dos pacientes.”

Com o tempo, o violinista passou a mobilizar outras pessoas para o trabalho de levar a música aos hospitais. “Organizamos concerto de Natal, de dia das mães. Levamos o [coral infantil] Curumim a um Centro de Hemodiálise, a Orquestra de Câmara da PUC também trabalha conosco, sempre levando conforto e musicalidade para as pessoas”, lista.

A busca pelo tema também o levou a dar palestras em diversas cidades, tanto para pacientes quanto para a comunidade médica sobre o assunto. O trabalho voluntário, aos poucos, foi se tornando uma das missões de vida do violinista, que não esconde o entusiasmo e a paixão pelo assunto: “Tenho um antigo sonho de que Curitiba se torne uma referência, senão mundial, ao menos nacional no uso da música no tratamento hospitalar”, confessa.

A dedo

Bach, Hendel, Haydn e Mozart estão sempre no repertório de Paulo Torres. Há diversos estudos que comprovam o benefício da música clássica para pacientes em recuperação.

"Currículo"

De pacientes que se recuperaram melhor a pessoas que exalaram seus últimos suspiros ao som do violino, as histórias que acumulou com essas experiências ao lado de pianistas – uma de suas filhas entre eles, Daniella Pereira –, dariam um livro, se as datas e os locais não estivessem tão difusos. Mesmo assim, vale contar a que compartilhou com uma colega de fé.

Certa ocasião, Torres entrou em um quarto da UTI com sua filha, trazendo um teclado sobre o carrinho de alimentos, para tocar o hino adventista “Não me esqueci de Ti” ao pé da cama de uma paciente. “Ela se levantou, tentou arrancar as máscaras que a envolviam e arregalou os olhos. Me afastei, porque achei que estava fazendo mal a ela”, conta. Duas semanas mais tarde, no mesmo hospital, porém, aquela paciente encontra sua filha no corredor, a abraça e chora copiosamente. “Ela disse que estava sem nenhuma esperança. E que, na manhã do dia em que tocamos para ela, ela havia pedido para que mandasse um sinal de que Ele não havia se esquecido de sua fiel.” A prova estava justamente no hino adventista, coincidentemente um de seus favoritos.

Fonte: Gazeta do Povo

MÚSICA E CONTEMPLAÇÃO
LAYOUT POR LUSA AGÊNCIA DIGITAL